quinta-feira, 19 de maio de 2011

“Quando pensamos em” é um projecto do Serviço Educativo do Maria Matos que se realiza em escolas secundárias de Lisboa. Cada edição conta com um artista convidado e visa gerar reflexão em torno dos temas da programação do Teatro e colocar a comunidade escolar em contacto com os próprios criadores. Cada edição culmina com a apresentação no Teatro Maria Matos de um espectáculo realizado pelos alunos. Para a sua 4ª edição, com o tema “biografia”, foi convidada a mala voadora.
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Na wikipedia, diz-se que biografia vem do grego: bíos (vida) + gráphein (escrever). Que é um género literário no qual o autor narra a história da vida de uma pessoa ou de várias pessoas. Que, de um modo geral, as biografias contam a vida de alguém depois da sua morte mas que, na actualidade, isso tem vindo a mudar. Que, em certos casos, as biografias falam da vida dos biografados, não apenas para contar a sua história, mas também para pensar sobre ela criticamente.
Na verdade, uma biografia é aquilo que se quiser.
Posso contar a minha história tal como gostava que ela fosse. Alguém pode contar a minha história como acha que ela é, sem a conhecer muito bem. Posso contar a história de outro e dizer que é a minha. Posso ver a minha história contada por outro como se fosse sua. Posso não ter bem a certeza de qual é mesmo a minha história. Se a minha história for escrita, deixa de haver dúvidas. Ela passa a ser aquilo que estiver escrito. Mesmo que não tenha nada a ver com o que de facto se passou. Pelo menos, quem a ler vai acreditar nisso. Se for bem contada, uma história pode ser mais interessante do que aquilo que realmente é.
A minha história também são as notícias que eu leio no jornal.
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“Metiam-se estatuetas, conchas, bolas de vidro, vasos de flores, lagartos empalhados, cartas! — cartas e fotografias, fotografias de casamento nas suas molduras douradas (Porque não deixamos ficar isso? perguntou o marido, e a esposa enfurecida grita: Devias ter vergonha!), fotografias das crianças, e nesta foi a primeira vez que ele se sentou, e aqui a primeira vez que ele disse dá-dá, e aqui está ele com um chupa-chupa, e aqui com a vovó — tudo, tudo mesmo, porque esta garrafa de vinho, este pacote de esparguete que eu pus de lado quando começou o tiroteio. O striptease da casa vai até ao fim, até às argolas dos cortinados e só resta fechar a porta à chave e fazer paragem na avenida a caminho do aeroporto para atirar as chaves para o oceano.” (Ryszard Kapuscinski, Mais Um Dia de Vida, Angola 1975)
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apresentação Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa